8 de janeiro de 2012




Lideranças indígenas do povo Guajajara da aldeia Zutiwa, Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, denunciam o assassinato de uma criança Awá-Guajá que pertencia a um grupo em situação de isolamento.



O corpo foi encontrado carbonizado em outubro de 2010 num acampamento abandonado pelos Awá isolados, a cerca de 20 quilômetrosda aldeia Patizal do povo Tenetehara, região localizada no município de Arame (MA). A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi informada do episódio em novembro e nenhuma investigação do caso está em curso.


As suspeitas dão conta de que um ataque tenha ocorrido entre setembro e outubro contra o acampamento dos indígenas isolados. Clovis Tenetehara costumava ver os Awá-Guajá isolados durante caçadas na mata. No entanto, deixou de encontrá-los logo que localizou um acampamento com sinais de incêndio e os restos mortais de uma criança.


“Depois disso não foi mais visto o grupo isolado. Nesse período os madeireiros estavam lá. Eram muitos. Agora desapareceram. Não foram mais lá. Até para nós é perigoso andar, imagine para os isolados”, diz Luís Carlos Tenetehara, da aldeia Patizal. Os indígenas acreditam que o grupo isolado tenha se dispersado para outros pontos da Terra Indígena Araribóia temendo novos ataques.


Conforme relatam os Tenetehara, nos últimos anos a ação de madeireiros na região tem feito com que os Awá isolados migrem do centro do território indígena para suas periferias, ficando cada vez mais expostos aos contatos violentos com a sociedade envolvente. Além disso, a floresta tem sido devastada pela retirada da madeira também colocando em risco a subsistência do grupo, essencialmente coletor.


Estima-se que existam três grupos isolados na Terra Indígena Araribóia, num total de 60 indígenas. Os Tenetehara conservam relação amistosa e afastada com os isolados, pois dividem o mesmo território.


Denúncias antigas


“A situação é denunciada há muito tempo. Tem se tornado frequente a presença desses grupos de madeireiros colocando em risco os indígenas isolados. Nenhuma medida concreta foi tomada para proteger esses povos”, diz Rosimeire Diniz, coordenadora do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Maranhão.


Para a missionária, confirmar a presença de isolados implica na tomada de medidas de proteção por parte das autoridades competentes. Rosimeire aponta a situação como de extrema gravidade e que não é possível continuar assistindo situações de violência relatas por indígenas.


Durante o ano passado, indígenas Awá-Guajá foram atacados por madeireiros enquanto retiravam mel dentro da terra indígena e os Tenetehara relatam a presença constante dos madeireiros, além de ameaças e ataques. “Não andamos livremente na mata que é nossa porque eles estão lá, retirando madeira e nos ameaçando”, encerra Luiz Carlos.







Criança queimada viva no Maranhão


Publicado em 6 de janeiro de 2012 por John Cutrim
Do Terra Magazine


Um representante dos indígenas Guajajara afirma que madeireiros mataram uma menina da etnia Awá-Gwajá, ateando fogo nela, numa área de mata, em Arame, no Maranhão, na semana passada. A região vem registrando uma série de agressões a índios nos últimos meses.


Os Awá-Gwajá mantêm-se isolados, sem contato com outras tribos ou com os não-indígenas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ainda buscam mais informações sobre o assassinato.


Outro indígena, que também se identificou como pertencente à etnia Guajajara, em conversa com Terra Magazine, confirmou o homicídio:


- Dia 30, por aí assim. Foi dentro do mato. Os madeireiros estavam comprando madeira na mão dos índios (Guajajara) e acharam uma menininha Gwajá. E queimaram a criança. Só de maldade mesmo. Ela é de outra tribo, eles vivem dentro do mato, não têm contato com os brancos, são brabos.


Ele admitiu que sua etnia Guajajara descumpriu a lei ao negociar madeira, mas se queixou da invasão naquele território. Reclamando de “muita discriminação” e violência contra indígenas, atestou:


- Quase todo dia em Arame. Os brancos ficam batendo nos índios lá. Não acontece nada, ninguém resolve nada. A gente não sabe nem contar mais porque são muitos casos. Eles (da Funai) sabem. A gente informa e…


Sobre providências tomadas pela Funai, ele respondeu com desânimo: “Hum, pior”. E incluiu a polícia: “Eles não resolvem nada”. Recentemente, houve protestos de indígenas na região.


- O último caso que aconteceu foi que bateram num índio, na praça pública de Arame. Espancaram demais. Não se sabe com quem fala quando acontece isso. A polícia não resolve, né? Nem os casos deles (não-indígenas). Não tem quem socorra, para a gente falar depois quando acontece assassinato de índio. Fica por isso mesmo – lamentou o Guajajara.


Registros oficiais


Um funcionário da Funai que prefere o anonimato disse que a entidade enfrenta dificuldades por ter sofrido um processo de intervenção e interrompido suas atividades. Informa também que os dados de 2011 sobre agressões contra indígenas ainda não estão prontos. Porém, ratifica: “São muitos casos que acontecem durante o ano”


Relatório do Cimi aponta 452 assassinatos de indígenas no Brasil entre 2003 e 2010. Em 2007, foram noticiadas 92 homicídios. Em cada um dos três anos seguintes, foram 60. As estatísticas do ano passado devem ser divulgadas em março.


CIMI confirma assassinato de criança


O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) confirmou a informação que uma criança da etnia Awá-Gwajá, de aproximadamente 8 anos, foi assassinada e queimada por madeireiros na terra indígena Araribóia, no município de Arame, distante 476 km de São Luis. A denúncia foi feita pelo Vias de Fato e foi postada logo após receber um telefonema de um índio Guajajara denunciando o caso.


De acordo com Gilderlan Rodrigues da Silva, um dos representantes do CIMI no Maranhão, um índio Guajajara filmou o corpo da criança carbonizado. “Os Awá-Gwajás são muito isolados, e madeireiros invasores montaram acampamento na Aldeia Tatizal, onde estavam instalados os Awá. Estamos atrás desse vídeo, ainda não fizemos a denúncia porque precisamos das provas em mãos” disse Gilderlan.


Violência contra indígenas é fato recorrente no Maranhão. No dia 26 de setembro de 2011, conforme denunciamos aqui nesse site, uma senhora indígena do Povo Canela, Ramkokamekrá Conceição Krion Canela, de 51 anos foi encontrada morta a pauladas. A atrocidade aconteceu no Povoado Escondido, interior de Barra do Corda. No mês de outubro, uma índia de 22 anos, deficiente mental, da terra indígena Krikati foi violentada sexualmente por um homem identificado como Francildo. Segundo Belair de Sousa, coordenador técnico da terra indígena, o indivíduo chegou na aldeia Campo Grande armado. O CIMI Nacional informou que vai emitir nota pedindo apuração do caso do assassinato da criança Awá. (Vias de Fato)




Fonte: http://www.jornalpequeno.com.br/blog/johncutrim/?p=25532

Criança indígena de 8 anos é queimada viva por madeireiros



Quando a bestialidade emerge, fica difícil encontrar palavras para descrever qualquer pensamento ou sentimento que tenta compreender um acontecimento como esse. Na última semana*. uma criança de oito anos foi queimada viva por madeireiros em Arame, cidade da região central do Maranhão. Enquanto a criança – da etnia awa-guajá – agonizava, os carrascos se divertiam com a cena.O caso não vai ganhar capa da Veja ou da Folha de São Paulo. Não vai aparecer no Jornal Nacional e não vai merecer um “isso é uma vergonha” do Boris Casoy. Também não vai virar TT no Twitter ou viral no Facebook. Não vai ser um tema de rodas de boteco, como o cãozinho que foi morto por uma enfermeira. E, obviamente, não vai gerar qualquer passeata da turma do Cansei ou do Cansei 2 (a turma criada no suco de caranguejo que diz combater a corrupção usando máscara do Guy Fawkes** e fazendo carinha de indignada na Avenida Paulista ou na Esplanada dos Ministérios). Entretanto, se amanhã ou depois um índio der um tapa na cara de um fazendeiro ou madeireiro, em Arame ou em qualquer lugar do Brasil, não faltarão editoriais – em jornais, revistas, rádios, TVs e portais – para falar da “selvageria” e das tribos “não civilizadas” e da ameaça que elas representam para as pessoas de bem e para a democracia.


Mas isso não vai ocorrer. E as “pessoas de bem” e bem informadas vão continuar achando que existe “muita terra para pouco índio” e, principalmente, que o progresso no campo é o agronegócio. Que modernos são a CNA e a Kátia Abreu. A área dos awa-guajá em Arame já está demarcada, mas os latifundiários da região não se importam com a lei. A lei, aliás, são eles que fazem. E ai de quem achar ruim. Os ruralistas brasileiros – aqueles que dizem que o atual Código Florestal representa uma ameaça à “classe produtora” brasileira – matam dois (sem terra ou quilombola ou sindicalista ou indígena ou pequeno pescador) por semana. E o MST (ou os índios ou os quilombolas) é violento. Ou os sindicatos são radicais.


Os madeireiros que cobiçam o território dos awa-guajá em Arame não cessam um dia de ameaçar, intimidade e agredir os índios. E a situação é a mesma em todos os rincões do Brasil onde há um povo indígena lutando pela demarcação da sua área. Ou onde existe uma comunidade quilombola reivindicando a posse do seu território ou mesmo resistindo ao assédio de latifundiários que não aceitam as decisões do poder público. E o cenário se repete em acampamentos e assentamentos de trabalhadores rurais.






Até quando


Obs.:


As informações sobre o episódio foram divulgadas pelo jornal Vias de Fato (www.viasdefato.jor.br), que faz um trabalho muito sério em São Luís, especialmente dedicado à cobertura da atuação dos movimentos sociais. No seu perfil no Facebook, uma das coordenadoras do Vias de Fato publicou a foto e a informação de que se tratava de uma criança queimada. Estamos apurando e reunindo mais informações para publicar assim que possível.


*O crime não ocorreu segunda (3) como informei. No sábado (31) o jornal Vias de Fato foi informado do episódio, mas não diz em que dia ocorreu. O Vias está fora do ar (algum problema técnico, creio), mas o cache do Google ainda permite a visualização da nota publicada na noite do sábado.


**Não tenho nada contra o movimento Anonymous, que se identifica através da máscara de Guy Fawkes. Ao contrário, até simpatizo com o grupo, porque seus integrantes agem com estratégia e planejamento. Tenho restrições contra pessoas que dizem combater a corrupção participando de marchas enquanto pagam um salário de fome à empregada doméstica ou sonega imposto de renda.






Texto publicado originalmente em: www.brasiliamaranhao.wordpress.com/2012/01/05/crianca-indigena-queimada/

Nota de esclarecimento: não se sabe ao certo a data do assassinato dessa criança Awá-Guajá, verifiquei conflito de informação. Algumas fontes atestam que uma criança desta etnia foi encontrada carbonizada em outubro de 2010, agora, surge outro relato sobre a morte de uma criança Awá-Guajá, não se sabe ainda se referente a criança morta em 2010 ou outra criança foi morta na passasgem de 2011 para 2012. De qualquer forma a FUNAI não esclareceu a questão, se a denúncia de assassinato procede e se os madereiros da região de Arame (no Maranhão) são os responsáveis pelo crime.... Ou seja, FUNAI fazendo seu trabalhinho medíocre, como sempe!

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